REUNIÃO DISCUTE POLUIÇÃO DE CÓRREGOS

A Prefeitura e a Câmara Municipal de Bocaina realizaram na manhã da última sexta-feira, 14, a primeira de uma série de reuniões agendadas para a discussão de soluções para o problema dos resíduos gerados no processo de acabamento de couro nos curtumes do município. O encontro reuniu o prefeito José Carlos Soave), o presidente da Câmara, Caio de Almeida Prado Clemente, vereadores, representantes da Cetesb e da Sabesp e diretores do Sindacouros, que reúne 51 das mais de 150 empresas coureiras da cidade.


Nessa primeira reunião, as discussões focaram principalmente o descarte irregular dos resíduos líquidos (efluentes) pelos curtumes, que estariam provocando a contaminação por cromo das águas dos córregos da Bocaina e Himalaia, que cortam a zona urbana. Amostras colhidas pela Prefeitura das águas dos dois córregos nos últimos meses apontaram a presença do cromo, um dos produtos presentes no processamento do couro pelas empresas, e que em grandes concentrações, pode ser responsável pelo desenvolvimento de câncer. No final de maio, a Prefeitura de Bocaina foi notificada pelo Ministério Público, solicitando informações sobre as providências que estariam sendo adotadas pelo poder público para resolver o problema.


Durante as discussões, o prefeito Soave pediu a união de esforços entre os poderes Executivo e Legislativo, empresas do ramo, Cetesb, Sabesp e sindicato das empresas no sentido de buscar uma solução definitiva para o problema, que se arrasta há décadas no município. O prefeito cobrou da Cetesb a identificação das empresas responsáveis pelo descarte dos efluentes sem tratamento diretamente nos córregos e a punição de seus proprietários como início de uma solução para o problema.


Representantes do Sindacouros disseram que seus filiados, em sua grande maioria, observam todas as normas para o tratamento dos efluentes, apontando os dois terços de empresas não pertencentes à entidade como responsáveis pelo descarte irregular dos efluentes nos córregos.


Os representantes da Sabesp explicaram que a estação de tratamento de esgoto existente na cidade tem capacidade para processar apenas elementos orgânicos, como o esgoto domiciliar. O esgoto químico, como o originado pelo beneficiamento do couro, mata as bactérias envolvidas no processo e compromete a reciclagem da água. Segundo a empresa, amostras colhidas em diversos períodos nos dois córregos apontaram presença de cromo em pontos dos cursos d´água localizados anteriormente à passagem dos mesmos pelas lagoas de tratamento.


O prefeito Soave questionou os representantes da empresa a respeito de possível contaminação também da água servida à população, motivo de constantes especulações entre os moradores. A água que atende as residências de Bocaina é retirada de poços profundos, que poderiam ter a qualidade do produto comprometida na eventualidade da contaminação por cromo atingir os lençóis freáticos que abastecem esses poços.


A Sabesp garantiu que as análises da qualidade da água servida aos moradores é realizada com freqüência e que, em nenhuma delas, foi encontrada qualquer vestígio da presença de cromo ou de qualquer outro tipo de substância química utilizada em curtumes no produto.


Odor


Motivo de reclamação constante de moradores das ruas Aquilino Pacheco e Cerqueira, o forte odor proveniente da rede de esgoto dessas vias, sobretudo em dias de calor intenso, também foi tema da reunião. Alguns moradores queixam-se que durante o dia, o cheiro que exala dos ralos das residências chega a provocar ardência nos olhos e nas narinas, e acusam o despejo de efluentes de curtumes diretamente na rede pelo problema.


Os representantes da Sabesp descartaram a possibilidade do problema estar sendo causado pelo esgoto doméstico, alegando que, se assim fosse, o odor estaria ocorrendo em toda a cidade, e não localizado em apenas duas ruas.


Nesse ponto, Soave e o presidente da Câmara, Caio Clemente, cobraram da Cetesb a intensificação da fiscalização sobre as empresas localizadas ao longo das duas ruas para tentar identificar possíveis descartes de efluentes não tratados na rede coletora de esgoto.


"Temos o maior interesse que as atividades das empresas coureiras de Bocaina continuem se desenvolvendo plenamente na cidade, gerando empregos e recursos para o nosso município. Mas, ao mesmo tempo, não podemos permitir que alguns empresários inescrupulosos continuem comprometendo a natureza e a própria imagem do setor com o descarte irregular dos efluentes e dos resíduos sólidos de suas empresas", disse o prefeito. "A administração municipal vai encarar com muita seriedade essa questão do descarte irregular dos resíduos da indústria coureira, mas precisamos contar também com a participação dos empresários do setor, dos órgãos de controle e fiscalização e da imprensa no sentido de levantar e discutir as possíveis soluções para o problema", disse o prefeito.


Uma nova reunião estará acontecendo entre as partes no próximo dia 26 para a continuidade das discussões iniciadas nesta sexta-feira.