Bocaina termina a restauração de mais uma tela de Calixto em sua Igreja Matriz.

O Ateliê Raul Carvalho, de São Paulo, deve entregar na quinta a restauração da sexta tela do pintor  - “Transfiguração” (1925) -, trabalho patrocinado pela OHL Brasil, através da Lei Rouanet.
Bocaina termina a restauração da sexta – entre as 13 – telas sacras de Benedito Calixto da sua igreja matriz, pintadas entre 1924 e 1927.
O Ateliê Raul Carvalho, da Capital, responsável pelo trabalho, deve entregar na quinta-feira, dia 20,  a tela “Transfiguração”, de 1925,  totalmente restaurada, que está no altar da igreja  do município, a 69 quilômetros a noroeste de Bauru e 310 da Capital.
Foram 15 dias de intenso trabalho, feito pelas restauradoras Maria José Kretchetoff e Silvia Kretchetoff, do ateliê Raul Carvalho, para que a população tivesse a tela restaurada antes da Semana Santa.
A restauração da tela “Transfiguração”  - de 230 x 195 cm, com inscrições “Resplenduit Fácies. Ejus Sicut Sol”(A sua face resplendeu como o Sol” ), foi patrocinada pela OHL Brasil, empresa concessionária rodoviária, através de incentivo da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.
Há 16 dias, as duas restauradoras entregaram o restauro da tela “Discípulos de Emaús”, pintada também em 1925 por Benedito Calixto, que se encontra do lado esquerdo do altar da igreja matriz de São João Baptista de Bocaina. Essa tela também teve o patrocínio da OHL Brasil.
A iniciativa do processo da restauração está sendo do prefeito João Francisco Bertoncello Danieletto, o Kiko Danieletto (PV).
Deformações
De acordo com Maria José e Silvia Kretchetoff, a tela “Transfiguração” encontrava-se também em estado “muito crítico”, com deformações provocadas pelo tempo e por ‘alguma tentativa de restauro da tela de muitos anos”. Foram encontrados os mesmos problemas da tela “Discípulos de Emaús”.
“Encontramos bolhas, rasgos de acomodação. Tem perdas na região do céu. Antes da limpeza para restaurar a tela foi necessário fixarmos a camada pictórica para não ocorrer perdas”, explica ela.
Agora, fixada, foi feita a limpeza da tela e a restauração completa da tela”.
Trabalho a galope
“Estamos fazendo todo o esforço para entregar a tela restaurada até quinta-feira. O trabalho foi árduo também nessa tela”, comenta ela.
Análise preliminar de Silvia aponta que essa tela teve problemas com o calor, o que contribuiu para o estado atual da obra de Calixto.
Agora seis das 13 telas restauradas desde 2007: “Cristo no Monte das Oliveiras”, de 1925; “Deposição de Jesus Cristo”, de 1924; “Aparição do Anjo a Zacarias”, de 1924-1925; “São João Batista com Herodes”, de 1924; “Discípulos de Emaús”, de 1925; e “Transfiguração”, de 1925.  
Processo de Restauração
Raul Carvalho conta como é feito o trabalho de restauro das 13 telas sacras de Calixto, que são pintadas a óleo  sobre tela sobre alvenaria.
O primeiro passo foi fazer uma documentação das telas: fotos antes, análise visual do estado de conservação e documentação escrita.
Raul Carvalho diagnosticou as etapas seguintes para restauro das telas.
“Vamos consolidar a pintura e a parede. Essas telas de óleo sobre tela foram coladas na alvenaria. Vimos descolamentos em algumas partes da tela”, explica ele.
A correção desse problema é feito pela aplicação de uma resina acrílica importada para colar a tela novamente na parede. Literalmente é um tubo plástico de soro de resina aplicada em baixo da tela.
Na etapa seguinte, os restauradores farão uma limpeza para remoção da sujeira superficial das telas.
“Vamos fazer também a remoção do verniz oxidado para vermos à pintura original”, continua Raul Carvalho.
 Há, de acordo com ele, também áreas da tela que estão “craqueladas”, ou seja, com trincas provocadas pelo envelhecimento.
Assim, será feito uma fixação com assentamento dessas trincas. Poderemos fazer também pequenos retoques em pontos oxidados, por exemplo, por dejeto de insetos, que corroem a pintura.
Na finalização do trabalho de cada tela é aplicado um verniz importado especial para fixação e proteção, usado nos EUA e Europa.
Louvre de Paris
Os produtos químicos usados na restauração das 13 telas de Calixto são os mesmos utilizados no Louvre, de Paris, nos EUA, Japão e na Europa.
Todos os materiais usados são facilmente reversíveis para novos processos de restauro, argumenta Raul Carvalho.
Não são usadas tintas comuns, existe um código de ética dos restauradores profissionais.
“Os pigmentos importados fabricados para restauração de obras de arte evoluíram muito nos últimos 10 anos. Há testes de durabilidade em laboratórios de até 100 anos”, explica ele.
Experiência
Raul Carvalho e sua equipe tem vasta em restaurar telas de pintores famosos, como Portinari, Di Cavalcanti e Calixto. Trabalham a 15 anos no ramo.
Outras obras de Calixto em São Paulo passaram pelas suas mãos.
“Restaurar é preservar o original da obra de arte. Restaurador não cria nada, não inventa nada e nem apaga. É um trabalho extremamente técnico e minucioso”, diz o profissional.   
Benedito Calixto
Benedito Calixto de Jesus nasceu em Itanhaém em 1853 e aos 18 anos já começou a pintar e expor seus quadros na Capital. Mudou-se para Santos e decorou o Teatro Guarani. De 1883 a 1885 estudou em Paris. Voltou para o Brasil e foi morar em São Vicente.
Por que Bocaina?
Calixto foi convidado a pintar em 1923 telas para a igreja de Jaú (SP). Teve um desentendimento com o padre da paróquia e foi convencido pelo cônego português, José, da igreja matriz de Bocaina, a fazer sua obra para a paróquia local.